Quando comecei a me aprofundar mais no hobby, já tendo outras canetas, a Lamy 2000 começou a aparecer em todas as minhas buscas por canetas melhores. Não demorou muito pra eu descobrir que ela é uma das queridinhas da comunidade de caneteiros. E eu não entendia o motivo.
Meu gosto inicial era por canetas clássicas, em formato de charuto, pretas com detalhes dourados. Uma pena gigante e pomposa. Não a toa que minha primeira caneta foi uma Pilot Custom 74. E eu olhava para a Lamy 2000 e não sentia interesse nenhum.
A Lamy 2000 tem um design simplista, industrial, moderno. Inspirada no Bauhaus1, ela possui um visual bem icônico. Projetada em 1966, continua até hoje com o mesmo desenho, com pequenos ajustes de manufatura e as ocasionais edições especiais.
A principal característica do design da Lamy 2000 é a pena semi-coberta. Isso permite que o corpo inteiro da caneta seja fluido, liso. Apenas a ponta da pena é visível. O restante é coberto por uma seção de aço inoxidável. Logo após o aço entra o outro material da caneta: Makrolon, um tipo de policarbonato. No corpo, também é possível encontrar uma janela para visualizar o reservatório de tinta dentro da caneta. No final do corpo, praticamente invisível sem um olhar cuidadoso, está o mecanismo do pistão.
Não demorou muito pra eu enjoar da mesmice das canetas clássicas e buscar algo novo (mesmo esse novo sendo um design de 1966). Calhou que na mesma época eu estava começando a me interessar por materiais diferentes também e a Lamy possuía as duas características. Resolvi arriscar. E não só não me arrependi como hoje é a minha caneta favorita para o dia a dia.
Começando pela escrita, o formato e tamanho dela são extremamente ergonômicos. A pena, extra-fina no meu caso, é incrivelmente macia e úmida. Tanto que nem parece realmente uma extra-fina, está mais para uma fina ou mesmo uma média japonesa2.
Outra coisa que gosto muito na Lamy 2000 é a recarga. Além de possuir um reservatório grande, de 1.35ml, e de possuir um mecanismo de pistão3 para recarregar a tinta, o fato da pena ser pequena e semi-coberta faz com que o orifício que suga a tinta fique mais próximo da ponta, facilitando a recarga quando o frasco de tinta está quase vazio. Como ela é minha caneta diária, a tinta que utilizo nela sempre está em níveis baixos e isso é uma praticidade enorme.
A modernidade também é visível na tampa: não é de enroscar, apenas de encaixe. O corpo possui duas pequenas garras de aço, quase imperceptíveis, que se agarram na tapa e produzem um estalo extremamente satisfatório. E pra quem curte, também é possível encaixar a tampa na parte traseira. Eu pessoalmente não curto, mas aí vai de cada um. O clipe é fácil de usar, com uma pequena mola que facilita a abertura e mantém a caneta devidamente presa na camisa ou na calça.
Um problema que é muito comum comentarem sobre a Lamy 2000 é que ela tem um sweet spot, um jeitinho pra funcionar e se não for nesse jeitinho, ela falha. E isso nunca aconteceu comigo. Uso normalmente como uso todas as minhas outras canetas e, se duvidar, são as outras que falham mais que a Lamy 2000.
Voltando ao material, o tal do Makrolon. Eu não sei muito bem descrever a sensação, e vou repetir isso muitas vezes em posts futuros, mas é uma sensação de um material premium. A textura, a temperatura, o peso, a forma como ele reage a pressão dos seus dedos: você sente que é um material de qualidade, e não somente um plástico. Ele também é escovado, o que ajuda bastante no manuseio, já que ele não fica escorregando na sua mão após alguns minutos de uso e o suor acumular nos seus dedos.
A Lamy 2000 foi a minha primeira caneta fora da zona de conforto, pra expandir os horizontes da minha coleção e experimentar coisas novas. E foi a melhor coisa que eu fiz. Ganhei uma companheira para a vida e ela cumpriu seu papel de me mostrar que canetas não precisam ser somente clássicas em formato de charuto com penas grandes.
Que eu poderia fingir que sei o que é mas não faço a menor ideia além do que tá escrito na Wikipedia, que você pode conferir aqui↩
Penas japonesas são, em grande parte, mais finas que as ocidentais. A regra mais comum de “conversão” é diminuir um tamanho: uma média japonesa é uma fina ocidental.↩
Clique aqui para saber mais sobre o funcionamento dos diversos mecanismos de recarga.↩