Obviamente não dá para falar de canetas-tinteiro sem falar das penas. Afinal, é a parte que mais chama a atenção da caneta. Grandes, pequenas, flexíveis, rígidas, de ouro, de aço, cheia de floreios ou minimalistas tem pena de tudo quanto é jeito para todos os gostos.
O que é
A pena é a parte da caneta-tinteiro que entra em contato com o papel e efetivamente faz a escrita. Ela tem esse nome por que antigamente as canetas eram feitas literalmente de penas. A ponta da pena era cortada de um jeito especial, bem similar ao formato de uma pena de caneta-tinteiro:
A diferença é que a caneta-tinteiro tem um reservatório e, para controlar a vazão de tinta, ela possui um alimentador que fica logo abaixo da pena. O alimentador é o coração da caneta-tinteiro.
A física por trás das canetas-tinteiro é bem simples. A tinta é levada até o papel pela capilaridade. Para chegar até o papel, ela passa pelo alimentador, que possui várias frestas. Essas frestas servem como um mini reservatório, onde a tinta fica armazenada bem próxima de onde será utilizada.
A tinta é direcionada, pela ação capilar, para o canal do alimentador. É por esse canal que a tinta sai do reservatório para a ponta da pena, e é por onde o ar entra no reservatório. Essa troca de ar e tinta acontece no respirador da pena. De lá, a tinta segue pelo canal da pena até chegar à ponta, onde ela então escorre para o papel.
A pena em si é formada das seguintes partes:
A ponta é a parte da pena que entra em contato com papel. Ela é feita de um metal bem duro, em sua maioria irídio. Algumas das características da escrita são definidas pela ponta, como a grossura do traço.
O canal divide a ponta e parte da pena em dois. O canal é responsável por direcionar a tinta do alimentador para a ponta.
Cada lado do canal é um dos dentes da pena. Os dentes precisam estar alinhados para uma boa escrita. Eles servem como amortecedores. Dentes mais flexíveis permitem uma escrita mais macia e com maior variação na espessura do traço.
Na outra extremidade do canal está o respirador. Além de possibilitar o ar entrar no reservatório de tinta, ele também serve para impedir que a pena rache quando os dentes estão sob estresse. Existem vários formatos de respirador. Circulares, corações, fechaduras, luas. A função é a mesma, só mudando a estética.
Os ombros são a base dos dentes. É a grossura do ombro que define se o dente vai ser mais ou menos flexível. Um ombro mais largo torna a pena mais rígida.
Finalmente o corpo é a parte que conecta a pena ao corpo da caneta. Nele também geralmente são inseridas diversas informações sobre a pena, como o tamanho, o material, a marca e as ornamentações.
Materiais
As penas podem ser feitas de vários materiais diferentes, mas os mais comuns são ouro e aço inoxidável. Antigamente as tintas eram bastante corrosivas então era necessário o uso de um material resistente.
O ouro é um metal bem macio, então ele puro não seria ideal para se fazer uma pena. Para isso, são utilizadas diversas ligas de ouro. As mais comuns são as de 14, 18 e 21 quilates1.
As penas de aço inoxidável são, obviamente, mais baratas. Mas isso não quer dizer que são piores. A principal diferença entre as de ouro e as de aço é o controle de qualidade. Por ser um material mais caro, há um cuidado bem maior na manufatura de penas de ouro em relação as de aço.
A cor da pena não indica o material. Existem penas de aço douradas e penas de ouro prateadas. É preciso ficar atento ao material e não ao metal que a pena foi banhada.
Também existem penas de outros metais, como paládio, ródio e titânio. Das diversas características das penas, o material é o que menos influencia na escrita. Uma pena de ouro pode ser feita para ser rígida enquanto uma de aço ser feita super flexível. No fim, o material utilizado é mais uma jogada de marketing para tentar atestar qualidade.
Tamanho da ponta
O tamanho da ponta da pena é o que define a espessura do traço no papel. Além disso, o tamanho da ponta influencia em quanta tinta e o quão macia é a escrita. Uma ponta mais grossa permite que uma quantidade maior de tinta seja transferida para o papel, lubrificando a superfície e oferecendo uma escrita mais fluida. Já uma ponta mais fina, por liberar menos tinta, acaba sendo mais indicada para papéis de baixa qualidade.
Os tamanhos são, no geral, identificados por letras. As mais comuns são:
- EF, para extra-fina;
- F, para finas;
- M, para médias;
- B, de broad, para grossas;
Mas essa classificação por letras não é precisa, servindo só como comparativo geral. O tamanho real de cada pena varia muito de marca e de modelo de caneta.
Penas japonesas são, em grande parte, mais finas que as ocidentais. A regra mais comum de “conversão” é diminuir um tamanho: uma média japonesa é uma fina ocidental. Essa diferença é simplesmente porque os caracteres japoneses são mas complexos que o alfabeto latino, então uma ponta mais fina é essencial para facilitar a leitura.
Tipo da ponta
A última característica da pena é o tipo de ponta, ou formato da ponta. O formato da ponta é que define o tipo de traço da caneta. A maioria das canetas-tinteiro possuem uma ponta redonda, que é usada para criar uma linha uniforme.
Além da ponta normal, existem outros tipos também. Outro formato comum é o itálico2. A ponta itálica é achatada, o que faz com que os traços verticais sejam mais grossos que os traços horizontais. As pontas itálicas são medidas em milímetros, diferente do sistema de letras das normais. Os tamanhos mais comuns são 1.1mm e 1.5mm.
Parecida com a itálica tem a ponta musical. As pontas musicais geralmente possuem dois canais e três dentes. Elas são usadas para escrita de notação musical3, onde os traços verticais são finos e os horizontais são mais grossos. Os dois canais e os três dentes permitem uma flexibilidade maior, tornando a variação da espessura do traço mais fácil.
Falando em flexibilidade, também existem as penas flexíveis. Elas possibilitam variação do traço dependendo da quantidade de pressão aplicada. Esse era o tipo de pena mais comum antigamente, quando a caligrafia era mais cheia de floreios. As penas flexíveis geralmente não possuem ombros, ou possuem cortes neles, justamente para poderem ter flexibilidade.
Essas são só alguns tipos de ponta. Ainda existem diversos outros como a zoom, naginata tobi, arquiteta, oblíqua, concorde… Mas essas são extremamente raras e muito situacionais.
Essas são as principais características das penas e como elas funcionam. Parece muita coisa mas no fim as penas servem para escrever. E basta você encontrar uma4 que você se sinta confortável e aproveitar!